Blesto: para que serve e quando é indicado?
Sulfato de Bleomicina é usado para tratar cânceres e linfomas, sozinho ou com outros remédios de quimioterapia. Pode ser usado sozinho ou combinado nos seguintes tipos de câncer:
- Câncer de pele e mucosas: cabeça, pescoço (boca, língua, amígdalas, garganta, nariz, palato, lábios, gengiva, epiglote, pele e laringe), pênis, colo do útero e vulva. A resposta pode ser menor em pacientes com câncer de cabeça e pescoço que já fizeram radioterapia.
- Linfomas: doença de Hodgkin e linfoma não Hodgkin.
- Câncer de testículo: tumores de células germinativas, coriocarcinoma e teratocarcinoma.
- Acúmulo de líquido no pulmão (derrame pleural maligno): Sulfato de Bleomicina aplicado diretamente na pleura ajuda a controlar o líquido e evitar que volte.
Quando não devo usar Blesto?
Não use este remédio se você já teve alergia ou reação grave ao medicamento.
Modo de uso e dosagem do Blesto
Pacientes com linfoma devem receber doses baixas (2 unidades ou menos) nas duas primeiras aplicações por risco de reação alérgica grave. Se não houver reação, seguir dose normal.
Esquemas de tratamento recomendados:
Câncer de pele/mucosas e câncer de testículo
- 0,25 a 0,50 unidades/kg (10 a 20 unidades/m²), aplicadas na veia, músculo ou sob a pele, uma ou duas vezes por semana.
Linfoma não Hodgkin
- 0,25 a 0,50 unidades/kg (10 a 20 unidades/m²), aplicadas na veia, músculo ou sob a pele, uma ou duas vezes por semana. As duas primeiras doses devem ser de 2 unidades ou menos. Se não houver reação, usar dose normal.
Doença de Hodgkin
- 0,25 a 0,50 unidades/kg (10 a 20 unidades/m²), aplicadas na veia, músculo ou sob a pele, uma ou duas vezes por semana. Após melhora de 50%, usar dose de manutenção: 1 unidade por dia ou 5 unidades por semana na veia ou músculo.
Atenção: problemas pulmonares são mais comuns quando a dose total passa de 400 unidades. Doses acima disso exigem cuidado extra. Em tratamentos combinados, problemas podem aparecer com doses menores. Melhora na doença de Hodgkin e câncer de testículo aparece em 2 semanas. Câncer de pele/mucosas pode demorar até 3 semanas para mostrar resposta.
Derrame pleural maligno
- 60 unidades aplicadas em dose única diretamente na pleura.
Dose para pacientes com problema nos rins
Pacientes com função renal comprometida podem ter mais efeitos colaterais. A dose deve ser reduzida em 40-75% se o clearance de creatinina for menor que 50 mL/min. Pacientes em hemodiálise não precisam de ajuste.
Redução de dose baseada no clearance de creatinina (ClCr):
Clearance de creatinina (mL/min) | % da dose de Blesto |
≥ 50 | 100% |
40 a 50 | 70% |
30 a 40 | 60% |
20 a 30 | 55% |
10 a 20 | 45% |
5 a 10 | 40% |
Como aplicar
Pode ser aplicado no músculo, veia, sob a pele ou diretamente na pleura. Verifique se há partículas ou mudança de cor antes de usar.
Músculo ou sob a pele
Dissolver 15 U em 1 a 5 mL de água estéril, soro fisiológico ou água bacteriostática. Se doer, pode usar solução de lidocaína 1%.
Veia
Dissolver 15 U em 5 mL de soro fisiológico e aplicar lentamente em 10 minutos.
Pleura
Dissolver 60 unidades em 50-100 ml de soro fisiológico. Aplicar após drenar o líquido pleural e confirmar que o pulmão está expandido. O paciente deve mudar de posição por 4 horas após aplicação.
Normalmente não é necessário usar anestésicos ou analgésicos fortes.
Importante: Siga as normas de segurança para manipular medicamentos contra câncer1-8.
Sempre use luvas ao manusear Blesto - desde a abertura da embalagem até o preparo.
Precauções e advertências do Blesto
Use apenas com acompanhamento médico especializado em quimioterapia. Pacientes devem ser monitorados durante e após o tratamento.
Tenha recursos disponíveis para diagnóstico e tratamento de possíveis complicações.
Use com extremo cuidado em pacientes com problemas renais ou pulmonares. Problemas pulmonares ocorrem em 10% dos pacientes (1% podem evoluir para fibrose e morte). Risco maior em idosos acima de 70 anos e doses totais acima de 400 unidades. O primeiro sinal é falta de ar e sons pulmonares anormais. Radiografias podem mostrar alterações. Testes de função pulmonar podem mostrar redução de capacidade. Pacientes em cirurgia após tratamento com Blesto têm maior risco com oxigênio.
Medidas preventivas:
- Usar concentração de oxigênio próxima ao ar ambiente (25%) durante e após cirurgia.
- Controlar rigorosamente fluidos intravenosos, preferindo coloides a cristaloides.
Dor torácica aguda durante infusão é rara. Não contraindica necessariamente novos ciclos.
Reações tipo anafilaxia ocorrem em cerca de 1% dos pacientes com linfoma, geralmente nas primeiras doses. Monitorar cuidadosamente.
Problemas renais e hepáticos são raros, mas podem ocorrer a qualquer momento.
Risco de câncer, mutações e fertilidade
Não se sabe se causa câncer em humanos, mas seu mecanismo sugere risco. Pode causar mutações. É teratogênico em animais. Efeitos na fertilidade humana não são conhecidos.
Gravidez
Pode causar danos ao feto. Mulheres em idade fértil devem evitar gravidez durante tratamento. Se engravidar, informe imediatamente o médico.
Risco na gravidez: Categoria D.
Não use sem orientação médica durante gravidez.
Amamentação
Não se sabe se passa para leite materno. Por risco de efeitos graves no bebê, considere interromper amamentação ou tratamento conforme importância para a mãe.
Efeitos colaterais do Blesto
Problemas cardíacos e circulatórios
- Muito comuns (> 1/10): inchaço e vermelhidão nas mãos/pés.
- Fenômeno de Raynaud.
- Sem frequência definida: pressão baixa, dor no peito durante aplicação, trombose, AVC, infarto.
Problemas de pele
- Muito comuns (> 1/10): engrossamento da pele das mãos e unhas, manchas na pele, coceira, queda de cabelo, bolhas, vermelhidão, danos às unhas, flacidez da pele e inflamação de veias.
- Sem frequência definida: endurecimento da pele parecido com esclerodermia.
Problemas digestivos
- Sem frequência definida: enjoo, vômito, feridas na boca, alteração no paladar, falta de apetite e danos ao fígado.
Problemas sanguíneos
- Sem frequência definida: plaquetas baixas, crioglobulinemia e microangiopatia.
Reações imunológicas
- Comuns (> 1/100 e < 1/10): reações tipo anafilaxia (1%) - pressão baixa, confusão, febre e calafrios.
Problemas renais
- Sem frequência definida: sangramento na bexiga e danos aos rins.
Problemas pulmonares
- Comuns (> 1/100 e < 1/10): inflamação pulmonar (10%) e fibrose pulmonar (1%). Raros após aplicação na pleura.
Em caso de efeito adverso, notifique pelo Sistema VigiMed (Anvisa).
O que fazer em caso de superdose de Blesto?
Dose tóxica não definida. Problemas pulmonares aumentam com doses altas. Doses totais acima de 400 unidades exigem cuidado extra. Tratamento de reações graves é sintomático.
Problemas pulmonares são mais comuns em idosos acima de 70 anos e doses totais superiores a 400 unidades.
Em intoxicação ligue para 0800 722 6001.
Interações do Blesto com outros medicamentos
Gravidade: moderada
Remédio | Efeito da combinação |
Fenitoína | Diminui efeito do remédio |
Aminofilina, vitamina C, carbenicilina, cefazolina, cefalotina, hidrocortisona, metotrexato, penicilina, terbutalina | Reduz efeito da bleomicina quando misturados |
Substâncias com grupo sulfidrila | Inativa bleomicina quando misturados |
Soluções com aminoácidos | Causa formação de partículas quando misturados |
Como o Blesto funciona?
Eficácia comprovada
Bleomicina trata Linfoma de Hodgkin conforme estágio da doença. Estágios iniciais usam radioterapia; avançados usam quimioterapia combinada. Esquemas como ABVD, MOPP/ABV e B-CAVe são eficazes.
Para linfoma não Hodgkin, estudos mostram benefícios em sobrevida com combinações como PACEBOM. Para derrame pleural, bleomicina reduz recorrência melhor que tetraciclina.
Em câncer de colo do útero, combinação com mitomicina e cisplatina teve 19% de resposta. Para câncer de pênis, bleomicina teve 60-70% de resposta.
Em câncer de cabeça/pescoço, combinações com cisplatina ou fluoruracila têm alta resposta. Para câncer de vulva, esquema BMC teve 65% de resposta.
Em câncer testicular, esquema PEB tem até 100% de remissão completa. Retirar bleomicina reduz eficácia.
Referências bibliográficas:
1-14: Estudos clínicos sobre uso de bleomicina em diferentes tipos de câncer (disponíveis em bases médicas especializadas).
Propriedades farmacológicas
Sulfato de Bleomicina é um antibiótico citotóxico derivado do fungo Streptomyces verticillus, solúvel em água.
É eliminado principalmente pelos rins (60-70%). Problemas renais aumentam toxicidade. Dose deve ser reduzida se clearance de creatinina ≤40 mL/min.
Quando aplicado na pleura, 45% é absorvido para corrente sanguínea. Esta absorção deve ser considerada no cálculo da dose total.